Ao redor dos anos de 1965, quando foi formada a comunidade de fé, os fiéis estavam numa situação instável na qual tudo tinha que ser começado de novo. Por fora, tinham que arrumar um trabalho para conseguir a base da vida e sustentar a sobrevivência, e por dentro, fuçaram por toda a cidade em busca dos fiéis. A comunidade se esforçou para formar a base, mas teve que sofrer muitas dificuldades pela falta de um sacerdote responsável, da não fluência da língua, e pela mudança frequente do local de reunião.

No meio do ambiente desordenado e turbulento, os fiéis, mesmo sofrendo em lágrimas para poder se enraizar num canto da cidade estrangeira, teve que se incumbir os esforços extraordinários para poder conservar o foco da fé. (…) A comunidade coreana se reunia todos os domingos e celebrava a missa diligentemente, mas como não conseguiam compreender a língua e utilizavam um canto alugado de uma igreja de um outro povo, o desconforto não era pouco. Mesmo assim, os fiéis, sem um espaço para poder se encontrar e conversar com coração aberto, esperavam de coração, as horas das missas.

≪História de 35 anos da Paróquia≫, pp56-58

1. Pe. Donald C. McDonnell

Após a primeira missa, por causa da condição do Pe. Yoshiura, o Pe. Takeuchi começou a ajudar a comunidade coreana. A comunidade procurou por um padre que podia celebrar as missas periodicamente, e encontrou o Pe. McDonnell neste tempo.

Eu e alguns fiéis participávamos da missa na Igreja de São Gonçalo aos domingos, e nos dias de semana, na Igreja São Francisco, no fim da Rua São Bento. Um dia, ouvimos que havia um padre americano que falava japonês e fomos à Igreja São Francisco. Como não encontramos o padre, deixamos o nosso endereço. Mais tarde, um homem estrangeiro com o bilhete do endereço escrito a mão, visitou a nossa casa. Era um homem alto, vestido de preto, entrou dizendo: “An-nyung-ha-ship-ni-ca?”. Foi uma alegria tão grande que pareciamos ter encontrado Jesus de verdade. Ele era o Pe. McDonell.

Jung Rie Whang Ana

A primeira missa de casamento celebrada pelo Pe. McDonnell (6 de novembro de 1966)
Francisco Jum Suk Hwang, Tereza Jung Ja Kim

O Pe. McDonell nasceu em 1923, Ockland, nos EUA, foi ordenado em 1947 e atuou como o representante da Califórnia do Conselho Panamericano da Vida Rural Católica e como líder na programação d a formação dos missionários enviados à America Latina, do Centro da Fundação Internacional da Cultura situado no México. Depois, cursou a língua japonesa no Japão, e foi enviado à Diocese de Mogi das Cruzes, no Brasil, para o pastoral dos imigrantes japoneses. Durante a visita na comunidade japonesa em São Paulo, encontrou com a comunidade coreana. O Pe. McDonell teve a experiência de ter passado alguns meses na Coreia e falava um pouco de coreano também. Enquanto ele permanecia na comunidade, todas as semanas celebrava as missas e visitava as famílias, se incumbia nas atividades missionárias. A respeito da atuação do Pe. McDonell, não resta nada por escrito exceto algumas fotos. Apenas no registro da memória do Pe. Dae Ik Chang, podemos verificar os seus vestígios como o seguinte:

Além do Pe. Rashining, o presidente de Cáritas Brasileira, inúmeros padres brasileiros e americanos deram muitas ajudas às famílias da nossa fazenda. São os que ligaram o cordão da esperança para nós, através do apoio material, de socorro etc., toda vez que entrávamos em momentos críticos da vida da imigração. O Pe. McDonell também é um deles. Um dia, o Pe. McDonell visitou a fazenda com um avião de porte leve. O avião chamava-se St. Patrick. No momento, tive um assunto a resolver no Paraguai, na região fronteiriça. Eu me dirigi para lá no avião de Pe. McDonell. (…) Naquele tempo, no Paraguai também havia alguns fiéis imigrantes, mas não havia algum sacerdote para responsabilizá-los. (…) Nós fomos visitar os fiéis, atendemos as confissões e pegamos de novo o avião. Prometemos visitá-los com o avião, da próxima vez também. Como o itinerário seguinte, programamos uma ida a Buenos Aires na Argentina também. Pois na comunidade de lá também não havia sacerdote. Mas aconteceu um episódio inesperado. O avião que voltava a São Paulo, deixando-me na Santa Maria, quebrou no caminho e teve que fazer uma aterrissagem forçada em Mogi das Cruzes. O avião St. Patrick teve danos grandes. O Pe. McDonell permaneceu são e salvo, mas o projeto de visitar Buenos Aires tinha que ser cancelado.

O Pe. McDonell teve que partir da comunidade coreana por foça maior, pois ouviu a notícia do grave estado de saúde da mãe. Os fiéis da época dizem que, mesmo na situação de várias dificuldades, o Pe. McDonell travou apaixonadamente a luta no pastoral, visitando cada um dos fiéis nas suas casas, conseguindo reunir muitos números de fiéis na comunidade.

2. O primeiro grupo de apostolado

Passeio do Grupo de Mães (nos anos 1970)

Assim que a comunidade se estruturava, o primeiro grupo apostolado foi formado, e era o Grupo de Mães. O Grupo de Mães se formou tendo o seu núcleo na Dona Ana Jung Rye Whang, e as mães deste modo reunidas, atuaram tendo encontros voluntariamente mesmo sem os padres ou religiosas orientadoras. O Grupo de Mães eram responsáveis pelos eventos e a administração doméstica da comunidade, como preparar as mesas durante as visitas do Cardeal para os Sacramentos de Crisma desde 1967, também se esforçou nas atividades voluntárias e missionárias, fazendo o grande papel na estabilização da base da comunidade. Em 1981, com o aumento do número de membros, foi dividido em dois, e atuou como o Grupo Nossa Senhora e o Grupo Ana. Mais tarde, surgiram o Grupo de Mães da Escola Dominical e de Mãe de Colegiais. A origem das  atividades femininas da paróquia, pode ser considerada como o Grupo de Mães do tempo inicial. Em julho de 1968, a comunidade recebeu o comunicado de transferência, da parte da Igreja de São Gonçalo. Após a troca de ideias com o Cardeal Dom Agnelo Rossi, ficou de mudar para a Paróquia Nossa Senhora da Paz.

Mensal dos Estudantes nº1 (julho de setembro de 1969)
foi editado no total de 8 páginas, incluindo a capa.

A Paróquia Nossa Senhora da Paz é a comunidade formada pelos imigrantes italianos. Naquele tempo, eu trabalhava na pastoral , ajudando o pároco , Pe.  Antônio Galo , e responsabilizei sobre a comunidade coreana também. No momento em que acolhia a comunidade coreana, havia uma casa para os imigrantes, e como não havia um outro espaço, utilizamos aquele lugar. Mas os coreanos tinham a capacidade forte de independência e não permaneceram por muito tempo lá. (…) Naquele tempo, eu fazia também a pastoral dos marinheiros e ouvi dos marinheiros de Porto de Santos que os 37 Mensal dos Estudantes nº1 (julho de setembro de 1969) foi editado no total de 8 páginas, incluindo a capa. coreanos entraram de navios. (…) No mesmo período, os coreanos que entraram de Paraguai se juntaram, e a comunidade logo cresceu.

Pe. Giorgio Cunial

A atual figura da Paróquia Nossa Senhora da Paz

Um outro motivo que fez a comunidade crescer neste período, foi porque os coreanos que emigraram da região do campo para a cidade no início de anos 1970, formaram a Vila Coreana entre a Rua Glicério e a Rua Conde de Sarzedas, próxima à Paróquia Nossa Senhora da Paz.

3. A Irmã Juliana Sam Rye Je e a Irmã Ângela Ok Choon Kim

No fato de que a comunidade coreana pôde acolher as religiosas coreanas, houve a atenção e a ajuda da Madre Geral da Congregação Beneditina Missionária Tutzing, a Madre Gerturd Link (1908-1999). A comunidade coreana convidou oficialmente a Madre Geral Gerturd, que estava em visita oficial ao Brasil, e pediu o envio das religiosas coreanas à comunidade. A Madre Gerturd chamou a Ir. Juliana Sam Rye Che, e mandou para que servisse à comunidade coreana. A Madre Geral visitou o Convento de Daegu no mesmo ano, e solicitou para que enviasse mais uma religiosa para a comunidade coreana no Brasil. O Convento de Daegu decidiu enviar a Ir. Ângela Ok Choon Kim, que no tempo trabalhava na Paróquia Namsung Dong, Sangju. A Ir. Juliana Che que recebeu a missão antes, permaneceu por um tempo na Província de Sorocaba, esperando a chegada da Ir. Ângela Kim. Somente no dia 25 de dezembro de 1969 chegaram juntos à comunidade coreana como as primeiras religiosas. Depois da chegada das Irmãs Juliana Che e Ângela Kim, a comunidade iniciou a incumbir o esforço missionário com mais vivacidade. Apesar da partida do Pe. McDonell, com a colaboração do Pe. Takeuchi e do Pe. Giorgio, a missa para a comunidade continuou. Mas com as limitações de língua, a comunidade sentia mais ainda a necessidade de um sacerdote responsável. O esforço para solucionar este problema, podemos entrever na seguinte carta:

Chegada da Ir. Juliana Che e da Ir. Ângela Kim (25 de dezembro de 1969)

São Paulo, 24 de julho de 1970
Eminentíssimo Sr. Cardeal D. Agnelo Rossi

Religiosas saudações.
Eminentíssimo Sr. Cardeal Arcebispo de São Paulo D. Agnelo Rossi, a Associação Cristã dos Coreanos, vem por intermédio desta agradecer a sua amável acolhida quando aí estivemos no Palácio onde nos concedeu uma audiência.

E, novamente a Associação Cristã dos Coreanos vem reforçar o pedido, que na ocasião Vossa Eminência mostrou-se de acordo. Pedimos à Vossa Eminência que nomeie o mais breve possível um padre para Piauí, e tão logo isto aconteça a Padre Antônio Nargi, que lá se encontra, virá a São Paulo com a missão de orientar os Católicos coreanos, sendo que o Padre Antônio conhece a língua coreana poderá melhor auxiliar-nos, pois o caso contrário os coreanos tem encontrado grandes dificuldades para as suas confissões, comunhões, batismos, enfim em todos os problemas religiosos.

Esperando sermos atendidos o mais breve possível a diretoria atenciosamente agradece,

Cordialmente

Presidente Geral
Missão Católica Coreana

4. Pe. Antônio Nam, o responsável

No dia 30 de julho de 1971, o Pe. Antônio Nam foi nomeado como o sacerdote responsável para a comunidade coreana. O Pe. Antônio Nam foi ordenado no dia 25 de março de 1954, depois foi enviado à Coreia no ano de 1964, trabalhou como o pároco nas paróquias Samcheon-po e Namhae, na Diocese de Masan, durante 3 anos. Em 1968, foi transferido para o Brasil e atuava como vigário na Paróquia Santo Antônio da Diocese de Floriano, Piauí, região norte do Brasil, quando foi nomeado para a comunidade coreana pela solicitação da Diocese de São Paulo.

A comunidade se alegrou grandemente com a nomeação de um padre responsável, e o Pe. Antônio se incumbiu ativamente na pastoral, baseando-se nas experiências com as paróquias da Coreia. Mas a comunidade coreana ainda passava por dificuldades por problema da língua. O Pe. Antônio, aflito com este problema, dizia com frequência aos fiéis coreanos o seguinte, sentindo profundamente a necessidade de um padre coreano: “Para os coreanos, deve vir um padre coreano para melhorar na missão, e para os italianos, deve haver um padre italiano para melhorar na missão.”

Mas o Pe. Antônio permaneceu apenas por cerca de dois anos na comunidade e as suas atividades não estão bem conhecidas. Apenas é transmitida a história de que, quando a comunidade se transferiu da Igreja N. S. da Paz para a Igreja N. S. da Boa Morte, conhecendo a dificuldade financeira da comunidade, pessoalmente se dispôs a recolher o fundo e se responsabilizou pela reforma da igreja.

Comemoração do batizado e da primeira comunhão (15 de agosto de 1972)
Pe. Antônio Nam

Festival dos Imigrantes (Páscoa de 1971)
A participação no Festival dos Imigrantes para os imigrantes que vieram de vários países, promovido pela Diocese de São Paulo anualmente. Os fiéis reuniam-se na Catedral da Sé, celebravam a missa e apresentavam as suas culturas. A comunidade coreana apresentou a Dança de Leque e a Dança das Bonecas, recebendo grandes aplausos e elogios.