1. O tateamento da Coreia sobre a imigração ao Brasil

A Coreia e o Brasil, geograficamente são dois países que se situam no outro lado do globo, nem sequer tinham algum relacionamentos entre si historicamente. Por tanto, até o ano de 1910, não houve nenhuma imigração dos coreanos ao Brasil. O período em que a Coreia e o Brasil iniciaram os relacionamentos através da imigração, foi na época da ocupação japonesa forçada sobre a Coreia. No início dos anos de 1920, os japoneses partiram de uma imigração maciça ao Brasil, e alguns coreanos, na identidade de ‘choseonin (nome da dinastia antiga 2) da Coreia) do Japão’ se juntaram a este grupo. A primeira família imigrante coreana está registrada como a ‘família de magistrado do distrito Kim’. Depois, mais algumas famílias ou pessoas em particular partiram para imigração e se estabeleceram no Brasil.

Depois da libertação da Península Coreana do Imperialismo Japonês, somente após a fundação do governo da República da Coreia no dia 15 de agosto de 1948, a Coreia pôde promover a imigração ao exterior em nome da ‘República da Coreia’. A imigração dos coreanos ao Brasil foi estudada a partir do ano seguinte. Em 1949, foi aberta nos EUA, a Assembleia Internacional das Missões. Da Coreia, o Pe. Eul Soo Yoon participou como representante para poder obter as doações para os serviços de caridade. O governo coreano, ao saber do fato, consignou ao Pe. Yoon para que promovesse a imigração dos coreanos ao exterior. Nesta ocasião, o Pe. Yoon encontrou com o embaixador do Brasil em Washington e terminou a trabalho de base para a imigração dos coreanos. Ao retornar à Coreia, ele publicou a notícia a respeito do resultado, numa revista chamada comentando sobre os preparos necessários para a imigração.

Os países possíveis ou aptos para a imigração dos coreanos são: Brasil, Argentina, Venezuela, Chile, Cuba, México. Nestes países, já permanecem os imigrantes coreanos, mas estão sofrendo as dificuldades de sobrevivência. Procurei visitá-los nesta viagem mas não pude realizar o desejo. Atualmente, no Brasil estão dando a iniciativa para aumentar a produção agrícola por falta de alimentos, por tanto estão dando boasvindas à imigração do nosso povo. Mas então, surge o problema do tempo concreto de abertura da porta, e o que a respeito disso as autoridades vão decidir. Mas ao menos, deverão iniciar os tratos diplomáticos externamente, conforme a estabilização gradativa do nosso governo.

A imigração do nosso povo e a capacidade da nossa pátria: Na imigração do nosso povo ao exterior, antes de tudo, deveria deixar o tipo de pensamento, de que deve procurar um ‘lixeiro’ para aliviar a nosso problema de superpopulação. No mínimo, devemos pensar sobre o desenvolvimento do nosso povo no exterior, e os imigrantes devem ser as pessoas de melhor instrução do que os que vão permanecer no país. Pois este problema diz a respeito do prestígio do país e do povo, em divulgar a capacidade e a cultura da pátria.

Atualmente, os países possíveis de imigração são, como tenho dito, o Brasil , a Venezuela, etc., mas como estes países são agriculturais, os imigrantes deveriam ser os agricultores. Mesmo assim, não deverá enviar somente os camponeses. Isto é, antes da imigração, deveria instruí-los com os vários níveis de pré-conhecimentos a respeito de clima, de costume, de caráter do povo do local etc., e no grupo de imigração deveria incluir os médicos e os advogados, bem como as pessoas que podem servir de líderes.

Por fim, o mais importante seria pesquisar e conhecer a respeito do local onde irão se adaptar. Isto é, optar por um local favorável para que o nosso povo possa imigrar, sobreviver e se desenvolver.

Na citação acima, a parte referida por Pe. Yoon “O Brasil, a Argentina, a Venezuela, o Chile, a Cuba, o México. Nestes países, já permanecem os imigrantes coreanos, mas estão sofrendo as dificuldades de sobrevivência.”, parece estar referindo a situação dos ‘chosunin no Império Japonês’ que imigraram ao Brasil na época da ocupação forçada japonesa, junto com os imigrantes japoneses. Pe. Yoon parece tê-los considerado como os coreanos da mesma pátria, por ser do mesmo povo, superando a nação pertencente.

A imigração ao Brasil após a fundação do governo da República da Coreia iniciou desta maneira, pelo primeiro passo dado por um sacerdote católico, e foi dado por ele até o seu plano concreto. Na Coreia, o problema foi o aumento repentino da população, por causa das pessoas que migraram do Norte para o Sul após a libertação do país. E também pelos que retornaram ao país depois ter sido levados à força para o trabalho forçado por Imperialistas Japoneses. Por esta razão, estava sendo estudada a imigração ao exterior, mas o Pe. Yoon estava propondo que a imigração deveria ser a ‘expansão da mão de obra qualificada’ em vez de ser uma ‘evasão populacional’. Mas por causa da Guerra da Coreia em 1950 que logo estourou, a imigração ao Brasil foi prosseguida por uma direção totalmente não presumida.

2. A ligação entre a Igreja da Coreia e a Igreja do Brasil

Um registro sobre a comunicação entre a Igreja da Coreia e a Igreja do Brasil é difícil de ser encontrado antes da libertação do país. Tudo que aparece é alguma notícia esporádica que aparece na ≪Revista Kyung Hyang≫ com os nomes de ‘Burasil’ ou de ‘Bresilnia’, mas o Brasil aparece com a imagem de um país católico com a profunda fé. São as notícias como, em 1923, os fiéis brasileiros enviaram um caixão de prata para conservar as relíquias da Santa Terezinha de Menino Jesus, na ocasião de sua beatificação na Catedral de São Pedro de Roma, e em 1922, na ocasião do Centenário da Independência do Brasil houve o Congresso Eucarístico no país, e cerca de 200 mil fiéis participaram.

Congresso Eucarístico no Brasil

No ano passado, quando houve o evento de comemoração de 100 anos de Independência no Brasil, foi aberto o Congres so Eucarí s ti co no Porto de Rio de Janeiro. Participaram mais de 30 bispos e 500 padres, e 13.000 homens comungaram de uma vez. Na procissão eucarística, os 200 mil fiéis caminharam pelas avenidas com 800 bandeiras sagradas, e a multidão se ajoelhava e batia o peito, ou rezava em voz alta, demonstrando o coração extraordinariamente devoto e o respeito à Santíssima Eucaristia.

≪Revista Kyung Hyang≫ nº 521 (julho de 1923), pp304-305

Pelo registro, o primeiro encontro da Igreja da Coreia com um representante da Igreja do Brasil foi em 1925, em Roma, na ocasião da cerimônia de beatificação dos 79 beatos mártires coreanos. O Bispo da Diocese de Seul, Dom Mutel, durante a cerimônia encontrou com o Dom Malo de Petralim. Mas além de ter participado juntos num jantar, não continuaram com outras comunicações entre si.

Sr. André Nam Soo Kim, na Vila das Flores, com o Pe. Woong Jin Oh

Entre os coreanos que imigraram para o Brasil, a primeira pessoa relacionada com a Igreja Católica da Coreia foi um ex-prisioneiro de guerra que carrega a dor da guerra. Após o Tratado de Cessar-Fogo em 1953, houve a troca dos prisioneiros. Neste momento, os 76 soldados norte-coreanos e 12 soldados da China Comunista optaram por não ir nem para o Norte nem para o Sul. Deviam prosseguir para os outros países. A sua maioria desejou ir para a Suíça que era um país neutro, mas não pôde realizar os seus desejos. Após um longo encaminhamento, finalmente foi promovida a imigração ao Brasil destes, em fevereiro de 1956. No final, 55 foram destinados à imigração, e neste processo, 12 foram à Argentina e 43, incluindo 5 chineses, foram destinados à entrada no Brasil.

Entre os 43 que entraram no Brasil na época, o único que foi esclarescido como católico é o Sr. Nam Soo Kim (André). Ele foi convocado como soldado comunista, foi à guerra e se tornou prisioneiro em Wonsan. No campo de concentração de prisioneiros de Busan, encontrou com um sacerdote estrangeiro, recebeu o batismo e se tornou católico. Em relação a ele, houve uma notícia no jornal:

“Tragédia de 6.25”: O retorno definitivo de Sr. Nam Soo Kim

Pela mediação da Arquidiocese de Seul, o ex-prisioneiro que optou por um país terceiro… Finda o período de vivência como um preso no Brasil, a Pastoral Carcerária e a Paróquia Coreana no Brasil ficou na frente para resolver a respeito. Uma nova vida na Vila das Flores.

“É uma grande alegria e grande agradecimento.” O ex-prisioneiro de guerra Sr. Nam Soo Kim, depois ter passado mais de 40 anos na longínqua terra, assim que pisou na terra da pátria, clamou deste modo.

Sr. Nam Soo Kim é um dos 76 ex-prisioneiros que depois da Guerra da Coreia, deixaram atrás a Norte e a Sul, e optaram por um terceiro país. Ele cometeu dois assassinatos por causa da doença psiquiátrica e passou a maioria dos tempos na terra estrangeira. Foram 27 anos na prisão hospitalar mental. Mas ele entra no dia 10 de março, na Vila das Flores, no Eumsung-gun, Chungbuk, e marca um ponto final da vida acidentada na terra estrangeira, sendo abrigado na pátria.

O Sr. Kim estava estudando num colégio em Wonsan, quando aos 17 anos foi preso pelo exército do Sul, se tornando um prisioneiro. Ele se lembra como sua terra natal, o Powejin-Li, no Goseong-eup, Goseong-gun, Gangwon-do. Após disso, ele foi separado da família, passou pelo campo de concentração de prisioneiros na ilha de Geoje-do, e em fevereiro de 54 finalmente chegou ao Brasil através da Índia.

Sobre a sua decisão de optar por um terceiro país, ele explica: “Senti a repugnância de ver um matar o outro entre os mesmos patrícios, mesmo dentro do campo de concentração. E também senti o medo de uma re-explosão de outra guerra.”

Deste modo, o Sr. Kim começou a vida no Brasil com uma história dolorosa no coração. Mas nem num país terceiro conseguia desfrutar uma vida feliz. Sofrendo as dificuldades de sobrevivência e a solidão na terra estrangeira, adquiriu uma doença psiquiátrica, e por duas vezes cometeu assassinato, a maioria do tempo teve que passar dentro da prisão e no hospício dos presos. Em 1964, Sr. Kim trabalhava numa firma de japonês, mas como não pagaram o salário por dois meses, reclamou. Neste processo, os japoneses humilharam-no chamando-o de ‘Josenjing’ e lincharam-no. Pela ira súbita com a humilhação do povo e de auto-defesa, esfaqueou um deles e o acabou matando. Em 1975, foi liberto com o movimento de libertação promovido pelas Igrejas coreanas. Mas depois de 4 anos, em 1979, num restaurante chinês, ao reclamar de uma conta da refeição, um funcionário o ameaçou com o revólver. Ele retoma o revólver do funcionário e atira nele, o matando. Foi preso novamente.

Sr. Kim, ao descer no Aeroporto de Kimpo, disse: “Fiz coisas más por causa das pessoas más. Mas como encontrei com os nossos patrícios bondosos, viverei como uma boa pessoa.” Assim demonstrou a atitude de arrependimento sobre a vida passada.

“Sou André. Na época do campo de concentração, o padre estrangeiro me disse: “Your name is Andréa.” e me deu o batismo. Quando pequei e sentia torpor no coração, fazia confissões com o Pe. Pedro no Brasil.”

O Sr. Nam Soo Kim que se apresenta como um católico, apesar de não poder ter levado uma vida de fé fielmente por causa da vivência na prisão e no hospício, mostrou que manteve a fé firmemente, ao dizer que se arrependeu de seus pecados e fazia os sacramentos de confissão com os padres que de vez em quando o visitavam.

Segundo os responsáveis no Brasil, ele começou a sofrer da doença psiquiátrica desde o ano de 1965, logo depois do primeiro assassinato. Explicaram que, a solidão na terra estranha e a saudade da terra natal o empurraram mais e mais para a vida enlamaçada.

O Pe. Dong Ok Kim diz: “Uma pessoa que passou as situações como o Sr. Kim tem passado, se tivesse uma mente saudável seria mais estranha. A briga cruel entre os patrícios e a solidão na terra estrangeira fizeram com que a alma dele ande errante.” Ainda acrescentou que ele teve consideráveis melhoras na saúde mental, ao saber que poderá voltar á terra natal.

O Sr. Nam Soo Kim é um dos sacrificados pela tragédia do povo. No dia 10, após ter dado a despedida aos que o acompanharam até à Vila das Flores, com o rosto marcado por um sorriso que faz lembrar o Anthony Queen do filme , a sua figura traseira que subia a ladeira da Vila das Flores, estava cheia de vontade firme de espantar a solidão.

≪Jornal Paz≫ 20 de março de 1994, p19

3. A imigração católica coreana no Brasil

Fotografia de comemoração, depois do evento do Dia da independência da Coreia, no dia 15 de agosto de 1962. Neste dia, os patrícios que entraram no período da ocupação japonesa e os ex-prisioneiros anticomunistas, 15 pessoas da ‘Missão Cultural’ reuniram e fundaram a Associação dos Coreanos (o primeiro presidente, Chang Soo Kim). (≪História dos 50 anos da imigração coreana≫, pp775)

No final dos anos 1950, cresceu a atenção sobre a imigração para exterior dentro da Coreia. Mas na época, o governo não possuía um embasamento financeiro ou humano suficiente para poder promover o assunto com os planos concretos. Nesta situação, em 1960, quando o vento de imigração à América Latina soprou e o desejo de imigração do povo aumentou , em 1960 foi promovida a imigração ao Brasil com o nome de ‘Missão Cultural’. Mas como esta iniciativa não tinha sido realizada por algum tratado entre os dois países, sofreram muitas dificuldades no processo de forjamento do projeto e na sua aplicação. Em fevereiro de 1962, no período em que a imigração estava sendo promovida pelo nome de ‘Missão Cultural’, o governo coreano decretou a Lei de Emigração ao Exterior, e a imigração ao exterior se tornou possível oficialmente. Com isso, foi estruturado o grupo de imigração oficial. O Primeiro Grupo de Imigração Agricutural formada por 92 pessoas de 17 famílias, partiu do Porto de Busan, no dia 18 de dezembro de 1962. Depois da navegação de 55 dias, chegou ao Porto de Santos, no dia 12 de fevereiro de 1963. Neste grupo, Kye Soon Koh (Camilo), Sang Ki Chang (Stefano), Jae Sun Yoo (Benedito), Kye Seung Ahn (José), eram as 4 famílias católicas.

A família do Sr. Kye Seung Ahn (José), 1963

Mas como esta primeira imigração foi projetada sem uma análise suficiente, não pôde se tornar uma ‘Imigração Agricultural’ como era o objetivado. Depois, foram promovidas mais 4 levas de imigração, e chegaram 68 famílias como a ‘imigração agricultural’ ao Brasil, através das mediações do governo coreano e da embaixada do Brasil. Mas não foram bem sucedidas. Quando chegaram, o que os esperavam eram as terras improdutivas que se diferiam totalmente do conteúdo do contrato e da condição de localização, o que impossibilitava a limpeza do terreno como uma terra possível de cultivo. Ainda mais, no grupo incluíam muitos que não tinham interesse pelo trabalho de agricultura desde o início.

O passaporte da época da primeira imigração agricultural (Sang Ki Chang Stefano)

Como os fracassos continuavam, julgaram que, sendo o Brasil um país católico, o tratamento aos católicos seriam melhores. Dessa forma , foi examinada uma imigração católica. Esta imigração foi concretizada pelo encontro do Bispo da Diocese de Seul, Dom Ki Nam Roh, com o Bispo da Diocese de Ponta Grossa do Brasil, Dom Geraldo M. Pellanda em Roma, na ocasião do Concílio Vaticano II. O Dom Roh, após retornar ao país, enviou Pe. Sung investigação do local. Em seguida o Pe. Eul Soo Yoon, o conselheiro do Capítulo da Coreia (KCMC) da Associação Internacional Católica das Imigrações (ICMC), visitou o Brasil em julho de 1964, concretizando o plano e assegurando o terreno de 619 alqueires (1 alqueire = 20.021157km ), em um local situado 30 minutos de distância de carro da cidade de Ponta Grossa, Paraná. Pe. Yoon se registrou como o diretor executivo da ‘Empresa de Exploracão Santa Maria’, com a qual trataria a obra da Imigração da Igreja Católica da Coreia no Brasil. Assim, iniciou-se a história da ‘Fazenda Santa Maria’.

Por outro lado, o Bispo Dom Ki Nam Roh estruturou a ‘Associação Católica Coreana da Imigração’ e confiou a sua responsabilidade ao Pe. Sung Jong Park, o responsável do JOC(Juventude Operária Católica ), para convocar os pretendentes à imigração. Depois de sofrer muitas dificuldades devido a várias situações internas do país e pelos atritos com o Departamento de Imigração do Brasil, somente em 1965 conseguiram formar o primeiro grupo de Imigração Católica e puderam partir para o Brasil.

O navio Tjitjalengka

No dia 17 de novembro de 1965, encerrados todos os processos, partimos do Porto de Busan com o navio ‘Tjitjalengka’ que abrigou os 400 de 53 famílias. o Tjitjalengka é um navio antigo de frete e de passageiros ao mesmo tempo, de 16.700 toneladas com a velocidade máxima de 15 nós, foi construído em 1939. Este navio tem carregado principalmente os imigrantes, tinha a capacidade de abrigar 1.130 passageiros com 162 tripulantes. O navio Tjitjalengka com os imigrantes católicos, partiu do Porto de Busan, passou por Okinawa no Japão, por Hong Kong, por Cingapura, por Penan da Malásia, por Maurícius, por Rorenzo Marquez Portuguesa, por Durvan da África do Sul, por Porto Elizabeth, por Capetown, pelo Rio de Janeiro e por final, chegou ao Porto de Paranaguá. Foi uma longa viagem marítima de 55 dias.

Foi uma jornada marítima infernal. Quando o navio se chacoalhava, as pessoas não podiam controlar os próprios corpos, cambaleavam, caíam ou eram jogados no chão. Além disso, estes balanços retorciam as entranhas das pessoas. Os 24 O navio Tjitjalengka viajantes, sem distinção de homens, mulheres, velhos e crianças, agarravam um pelo outro e vomitavam. Os quartos estavam hermeticamente fechados e não havia ventilação. Em todo o quarto enchia o fedor do vômito, e os rostos pálidos como fantasmas mostravam as imagens repugnantes. Quando de repente o mar se acalmava, os imigrantes corriam aos toaletes para lavar os rostos e as roupas sujas de imundícies

Fazenda Santa Maria (1966)

Após a viagem cansativa, os imigrantes católicos chegaram ao Porto de Paranaguá, no Paraná, ao sul do Brasil, no dia 12 de janeiro de 1966 , e se deslocaram para a Fazenda Santa Maria. Esta fazenda era de uma escala de 15,471 km2, uma imensa terra comparada à área da parte norte de Seul, estava repleta de florestas e não conseguiria jamais algum lucro com o cultivo de pequena escala. Sobre a situação daquele tempo, o Sr. Kap In Kim lembra desta maneira:

10 anos de imigração católica no Brasil

Foi em meados de março que nós desfizemos as malas na região de Ponta, onde se localizava a atual Fazenda Santa Maria. Onde não havia nenhuma estrutura civilizada, num campo cheio de mato, começou a vida primitiva propriamente dita. Por causa do ambiente interno e externo bruscamente mudada, andamos errantes, e mesmo num pequeno assunto as opiniões divergiam. Como a própria sobrevivência ficou difícil, aumentou o número dos que partiam daqui, mas não podíamos prendê-los pois partiam na busca de um meio de sobreviver, e se tornou difícil o intuito de se unir.

As famílias restantes iniciaram o trabalho de granja conforme o conselho da Cooperativa de Cotia dos japoneses, pois não exigia pesadas forças de trabalho e era rápido o giro de capital. Por outro lado, iniciamos o cultivo de soja e arroz naquele ano. No primeiro ano, o cultivo foi abundante…

No ano seguinte, com uma capital base de 30 mil dólares recebidas do governo da Coréia e do financiamento feito em nome do secretário da Corporação de Desenvolvimento Agricultural, que era o secretário de Dom Pellanda, limpamos 60 mil km² de terra e iniciamos o cultivo de arroz. Depois de um trabalho árduo, no imenso campo arrozal, o arroz estava crescido em sua cor verde-escura. Naquele tempo, o Pe. Hee sun Kim chegou como sucessor do Pe. Dae Ik Chang. Mas com a seca inesperada, aquele arrozal verde ressecou. Para não perder a terra pelo menos, vendemos todas as maquinarias de cultivo e pagamos o financiamento. Começamos de novo com os 10 mil dólares ajudados pelo governo da Coreia… Estes acontecimentos seriam difíceis de suportar se não fôssemos pessoas de fé.

Como resultado dos esforços de limpeza da terra para o cultivo, no momento conseguimos garantir um total de 450 mil km² de terras cultiváveis. Mas ainda existiam problemas. Era o problema de registro no Incra , o Departamento de Desenvolvimento Agricultural. Se não fossemos registrados aqui, não seria possível a distribuição individual da terra. Este problema difícil e sério, quem se dispôs a solucionar foi o Dom Pellanda. Deste modo, o Bispo estava de todo forma lutando pelos coreanos até agora…

Através deste registro, agora em diante, as imigrações agriculturais podem receber as terras limpas por eles particularmente sem um novo registro no Incra. Este assunto foi muito difícil e sério, pode ser considerado como uma grande obra e o fruto da nossa imigração católica. As famílias que puderam receber a distribuição das terras de 450mil km² foram apenas 22. A razão disso foi, porque muitas famílias partiram da fazenda, e algumas famílias consideraram impossível o registro no Incra e não participaram do programa.

≪Revista Kyung Hyang≫ nº 1300 (julho de 1976), pp55-56

O registro na Incra e a distribuição das terras

A Arquidiocese de Seul, em 1966, enviou como padre orientador da Imigração Católica, o Pe. Dae Ik Chang. Durante este tempo, o número dos imigrantes aumentou e alcançou 500 pessoas de 69 famílias, e entre elas, os católicos eram 230 , de 39 famílias. Os protestantes eram 15 famílias. O Pe. Chang, além de cuidar da vida de fé dos imigrantes, recebia as doações de Cáritas Americana para solucionar o problema de alimentação. Desta maneira, contribuindo até economicamente, se incumbiu na pastoral durante um ano e 9 meses. Na época, o número de participantes da missa dominical era de 45 em média, e nas missas diárias era de 17. O número de crianças na escola dominical eram de 15) apenas 55.

A imigração católica formada com o objetivo agricultural tinha feito um contrato de trabalhar no mínimo 3 anos na Fazenda Santa Maria obrigatoriamente. Mas como as dificuldades da situação aumentaram, o número de pessoas que migravam para as cidades também aumentou. Como não foi possível uma administração normal, após 1967, as novas imigrações agriculturais destinadas ao Brasil foram cessadas definitivamente. Mesmo assim, centrada nas pessoas que continuaram a agricultura, foi formada uma comunidade de fé dentro da Fazenda Santa Maria e se tornou um dos eixos das comunidades coreanas de fé no Brasil.

Dom Pellanda, bispo da Diocese de Ponta Grossa que convidou a imigração católica dos coreanos

4. O nascimento da comunidade de fé dos coreanos no Brasil

Antes da imigração católica formar a sua comunidade de fé em Santa Maria, em São Paulo foi formado um núcleo de comunidade por si só. Com as migrações às cidades, da maioria dos imigrantes agriculturais que entraram no Brasil desde o ano 1963, o nascimento da comunidade de fé dos coreanos aconteceu não na Fazenda Santa Maria, mas em São Paulo. A respeito da situação daquele tempo, a Dona Joon Ja Lee (Cecília) e a Dona Chang Sung Ahn (Catarina) testemunham do seguinte modo:

Em frente à Igreja
da Fazenda Santa Maria (1966-67)

Nós chegamos em 1964, e assim que chegamos, a nossa mãe andou a procura dos fiéis. A nossa mãe foi batizada na Coréia por um padre francês que trabalhava lá, tinha trazido uma pequena imagem de Maria doada por aquele padre. Com aquela imagem, ela visitava casa por casa, e rezava com os fiéis. Deste modo, os fiéis entraram em contato entre si e reuniram cerca de 10 pessoas. Naquele momento ela propôs: “Que tal nós também celebrarmos a missa? Poderemos pedir aos padres daqui.” Todos acharam boa a ideia, e como a minha mãe falava bem japonês, procurou por um padre japonês. Naquele tempo, os nossos pais frequentavam as aulas de Bíblia do Pe. Mário uma vez por semana, e ela recebeu a informação de lá. Na Rua São Bento, havia uma casa dos jesuítas onde poderia se informar. A minha mãe foi lá e encontrou com o Pe. Yoshiura. O Pe. Takeuchi, o pároco da Igreja de São Gonçalo na época, permitiu o uso da igreja e foi possível a (primeira) missa. (Joon Ja Lee Cecília)

A imagem de Maria e Menino Jesus que a vó Ana Whang utilizava nas reuniões das orações

Eu cheguei com a primeira imigração agricultural em 1963, e tinha 20 anos. A Dona Ana Whang tinha sofrido muito. A sua filha, ajudou bastante. Pois fazia as coisas da casa no lugar da mãe. A Dona Ana temia o marido e por isso, às escondidas andou procurando pelos fiéis junto comigo. Eu não sabia de nada, então apenas andava atrás dela e fazia o que ela mandava. Naquele tempo não havia telefone, nem carro, nem sabia pegar ônibus. Andávamos só a pé. Ao chegar numa casa perguntávamos: “Onde moram os que vieram juntos?” Chegando outra casa perguntávamos de novo. Assim, anotamos (os nomes de fiéis) uma a uma e depois a vovó fez a lista. Deste modo andamos por meses procurando. E os avisamos para comparecerem à missa . Depois marcamos um dia e comprometemos em reunir todos juntos. Aquele dia foi 9 de maio. (Chang Sung Ahn Catarina)

Os fiéis que reuniram um a um, sentiram a urgência da formação da comunidade. Assim, no dia 9 de maio de 1965, na Igreja de São Gonçalo (Paróquia Pessoal Nipo-Brasileira São Gonçalo), com a participação de 44 pessoas, incluindo as famílias de Kye Soon Koh (Camilo), Jae Sun Yoo (Benedito), Kye Seung Ahn (José), Jong Man Lee (João Batista), Jae Ok Seo (Paulo) etc., foi celebrada a primeira missa pelo Pe. Yoshiura, o sacerdote de descendência japonesa, no meio de um sentimento de gratidão e de alegria.

No ano de 1965, nasceu a comunidade de fé em São Paulo, e depois, em 1966, formou-se a comunidade de fé na Santa Maria também. Assim, de início, houve duas comunidades de fé. Mas com a evasão dos coreanos da Fazenda Santa Maria para as cidades, e por a Diocese de Seul também não ter enviado mais outro sacerdote orientador que sucederia o Pe. Hee Sun Kim, as duas comunidades foram reestruturadas e centradas na comunidade de São Paulo, formando a atual Paróquia Coreana no Brasil.

Primeira missa da comunidade de fé dos coreanos (9 de maio de 1965)
O homem de baixa estatura no meio da foto é o Pe. Yoshiura, e ao seu lado, Pe. Ângelo Banki. O Pe. Yoshiura estava trabalhando como professor no Colégio Francisco Xavier, no Ipiranga, e o Pe. Banki era o diretor do colégio. A vó Ana Whang visitou várias vezes este colégio no Ipiranga, para pedir ao Pe. Yoshiura a missa para a comunidade

A Igreja de São Gonçalo

A comunidade de fé na Fazenda Santa Maria
A fotografia de comemoração da primeira comunhão, no verão de 1967, ao lado da igreja. Neste dia, as 4 crianças fizeram a primeira comunhão, as duas meninas são as filhas do Sr. Kap In Kim (a esquerda, Josefina Moon Ok Kim e a direita, sua irmã maior Maria Moon Ja Kim). O homem sentado atrás das duas meninas é o Pe. Dae Ik Chang, e atrás dele, o homem de óculos é o Sr. Kap In Kim. O Pe. Dae Ik Chang fez com que os meninos colocassem uma faixa azul celeste que simboliza a Nossa Senhora num dos ombros, e as meninas, na cintura